segunda-feira, 27 de setembro de 2010

A CASA DA LEITURA RECOMENDA...

A CASA DA LEITURA da Fundação Calouste Gulbenkian, em sinopses assinadas por Gabriela Sotto Mayor, recomendou os seguintes livros da Trinta Por Uma Linha:

O RISCAS

Sónia Borges, mais conhecida do público da literatura infanto-juvenil como ilustradora, que já se tinha estreado no universo da dupla autoria com A Menina Triste (2008), traz-nos, neste seu novo trabalho, assumindo também a responsabilidade por ambas as linguagens verbal e visual, uma história breve de um rapaz chamado Riscas. O ponto de partida é uma sensação de angústia, num rapaz «que tinha vontade de gritar», que começa por isso a ser desenhada a preto e branco com uma eficaz simplicidade e concreção técnica e plástica. À medida que a personagem vai encontrando o seu caminho, um ou outro apontamento a cor vai sendo acrescentado, em jeito de pontuação, até que o final feliz se aproxima e a cor fica cada vez mais presente, podendo ser conotada com o encontro da solução para o desconforto do protagonista. O volume distingue-se por ser simultaneamente despretensioso e apelativo tanto ao nível das palavras como das ilustrações, permitindo aos seus leitores uma maior identificação. [Leitores iniciais e medianos]

A MENINA DE PAPEL

A Menina de Papel decide deixar a sua casa, uma caixa de cartão, e partir à aventura para conhecer o mundo, mas durante a sua viagem conhece Alice, uma avó. Aos poucos vão-se conhecendo e é aí que ficamos a perceber a importância de se ter uma avó, alguém com um «colo transbordante de afectos esvoaçantes» assim como é revelada, de forma espirituosa e repleta de significado, a verdadeira razão de ser das rugas, «presentes que receb[emos] por cada coisa que aprend[emos]». Através de uma apelativa forma de contar, que combina prosa rimada, para a voz do narrador, com prosa livre para os diálogos entre as personagens, Teresa Guimarães explora as relações entre o real e o imaginário, em jeito de tributo ao papel de avó e à importância da ternura presente nas memórias e nas lembranças dos afectos que se trocaram. Tomando a última dupla como especial exemplo, as ilustrações de Anabela Dias são a cereja no topo do bolo, pela forma original, sensível, delicadamente surpreendente e potenciadora de novas leituras, como recria personagens, ambientes e momentos partilhados. [Leitores iniciais e medianos]

ALGAZARRA DE VERSOS

João Manuel Ribeiro, em Algazarra de Versos, colectânea de mais de vinte poemas, revela claras influências da literatura oral tradicional, apoiando-se na herança das rimas infantis, enfatizando a plasticidade que caracteriza a linguagem enquanto brinca com a métrica, com os sons e com a grafia das palavras. De temática diversificada, como se pode inferir desde o título, percorrendo distintos géneros (como as adivinhas, o alfabeto ou os provérbios), o fio condutor deste volume reside na capacidade do escritor de desconstruir a linguagem com mestria e ludicidade, recorrendo para isso a múltiplas combinações rítmicas, fónicas, melódicas, semânticas e lexicais, sensibilizando o leitor para a poesia. As ilustrações [de Elisabete Ferreira] trazem cor e algum humor à publicação sendo de salientar o equilíbrio e a leveza de leitura de algumas páginas simples com fundo branco (vide dupla «Sabias que» e «Contos & pontos tontos») em comparação com outras menos felizes com fundo ilustrado (vide dupla «Andorinha do meu telhado» e «O fruto do saber»). [Leitores iniciais e medianos]

EU FUI O MENINO JESUS

Eu Fui o Menino Jesus é uma compilação de contos unidos por um mesmo mote que, como regista uma pequena nota no final da publicação, «já viveram em outras páginas, repartidos por vários Natais, com excepção do último» que empresta o nome ao livro e que foi escrito especialmente para esta edição. Assim, a propósito do Natal, e nomeadamente a partir de um poema e quatro breves contos, podemos ler sobre o presépio na voz de um ratinho chamado Daniel; sobre a longa jornada dos três Reis Magos de encontro ao «Menino Deus Salvador»; sobre um anjo cego que rapidamente descobre que «quem tem olhos nem sempre é quem vê melhor»; sobre um postal de Natal que não gosta do Natal e, finalmente, porque «a vida dá muitas voltas» testemunhamos como é que uma vida «outrora desgraçada» agora se encontra «serena e em paz». As palavras de João Manuel Ribeiro encontram-se muito bem acompanhadas pela habitual subtileza, em jeito de pontuação, das expressivas e sugestivas ilustrações de Anabela Dias. [Leitores medianos e autónomos]

SOLETRA A LETRA

Recuperando o trava-línguas do universo literário tradicional, João Manuel Ribeiro explora as potencialidades humorísticas e lúdicas do alfabeto. O autor tira partido do cómico que resulta de muitos dos jogos sonoros rítmicos e fonéticos, a que não é alheio o nonsense. A pronúncia e articulação, por vezes difíceis, apresentam-se como um desafio divertido que prende a atenção do leitor. Esta é uma boa estratégia de aprendizagem do alfabeto, de enriquecimento do vocabulário e um excelente instrumento facilitador do desenvolvimento das competências de leitura em voz alta. As ilustrações de Elsa Fernandes complementam os poemas e dão cor aos momentos escolhidos para cristalizar visualmente. [Pré-leitores e leitores iniciais]